O texto da música do Legião Urbana poderia delinear mais os contornos do Brasil. Poderia explorar melhor os problemas que fazem do país uma nação confusa e de grandes contrastes. Mas aí o autor perderia o gancho poético e o impacto de seu refrão não seria o mesmo. Ainda mais quando o país dá mais atenção a uma cerimônia de casamento da realeza de um país estrangeiro do que a seus problemas internos.
O Brasil de hoje enfrenta diversos problemas de infra-estrutura que vão desde seus meios de transportes à geração de energia. São rodovias em péssimo estado de conservação e processos de licitação envolvidos em negociações obscuras, apesar do princípio da publicidade ao qual os atos da administração pública estão vinculados; são privatizações realizadas de forma canhestras e frouxas permitindo a particulares o enriquecimento veloz e nenhuma mudança vantajosa para o cidadão que paga por todas as negociatas. São embargos ambientais e manifestações de desabrigados por barragens; são os produtores de cana-de-açúcar que deixam de plantar para força a valorização de seu produto; são os aeroportos que não suportam mais o fluxo de passageiros domésticos e ainda estão ameaçados com o incremento de passageiros estrangeiros propiciados pelo turismo em torno dos eventos esportivos que acontecerão nos próximos anos... O brasileiro não tem alimento em sua mesa, mas comparece às festas vestindo os melhores estilistas.
Que país é esse que interrompe seus noticiários nacionais e locais apenas para transmitir na íntegra e ao vivo uma cerimônia de casamento que ocorre na Inglaterra? Como um país forte pode conviver demonstrando tanto provincialismo e ainda pleitear um assento fixo no conselho de segurança da ONU? Se o Brasil quiser ser tratado como um igual, deve imediatamente se comportar de forma mais altiva e demonstrar menor subserviência aos pseudo-impérios mundiais.
É preciso parar, pensar e responder imediatamente a essa pergunta que não é retórica:
Que país é esse?